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terça-feira, 8 de setembro de 2009

A noite em que a Rainha D.Elizabeth ouviu um verso de Neruda

Ela subiu ao palanque, estava maravilhosamente vestida com tecidos finos e azuis que deixavam adivinhar as curvas do seu corpo jovem, sorriu em tom de vergonha mas ninguém olhou sequer. Ajeitou o vestido rapidamente e apressou-se a limpar a voz. Olhou no horizonte tapado pelas pessoas que estavam ali para a ouvir e começou a declamar os versos que ali trazia escritos num pequeno livro:

Hemos perdido aún este crepúsculo.
Nadie nos vio esta tarde con las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.

He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente en los cerros lejanos.

A veces como una moneda
se encendía un pedazo de sol entre mis manos.

Yo te recordaba con el alma apretada
de esa tristeza que tú me conoces.

Entonces, dónde estabas?
Entre qué genes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?

Cayó el libro que siempre se toma en el crepúsculo,
y como un perro herido rodó a mis pies mi capa.

Siempre, siempre te alejas en las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas.

Na plateia, os olhos atentos da multidão começam a deixar soltar algumas lágrimas e no fundo do palco, um violinista falha a nota e ninguém repara tal não é a concentração na jovem que faz a sua voz entoar nos quatro cantos do teatro.
Dona Elizabeth observa o espectáculo do ponto mais alto, abanada com uma pluma por um criado negro, enquanto sorri maravilhada com a melodia da voz que descarrega nos seus ouvidos uns versos em espanhol perfeito. “Sublime!”- exclama para uma serviçal que a acompanha.
Lá em baixo, no palco, a jovem que declama, move os braços ao ritmo da música como se de uma dança se tratasse, no entanto, o resto do seu corpo permanece imóvel, totalmente concentrada na leitura do poema. Poema esse que provoca uma sensação de tristeza nas pessoas que o escutam e demonstra assim que as pessoas de classe alta também têm sentimentos.

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Post-It Amarelo Amarrotado

Se tivesse uma máquina de escrever não tinha um blog!